Adjuvância ou Resgate? Uma discussão sobre a radioterapia pós-prostatectomia radical em homens com fatores de alto risco de recorrência

A+ A-

O câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens no Brasil.1 A decisão sobre o tratamento mais adequado depende de avaliação individual, já que essa decisão é baseada em diversos fatores. Entretanto, de maneira geral, a cirurgia, a radioterapia e a terapia hormonal, isoladamente ou em combinação, costumam ser as opções mais recorrentes.2 Contudo, quando o assunto é radioterapia, ainda existem muitas dúvidas quanto à aplicação de tratamento adjuvante ou de resgate precoce dos pacientes e novas evidências publicadas recentemente alimentam a discussão.

Para o tratamento do leito prostático, estudos (ARO-92, SWOG, EORTC), haviam demonstrado que a radioterapia adjuvante apresentou benefícios em termos de sobrevida livre de progressão bioquímica quando comparada à observação após a prostatectomia radical em homens com extensão extra-prostática, invasão de vesícula seminal ou margens positivas. Um desses estudos demonstrou ainda um ganho em sobrevida global. No entanto, uma metanálise prospectiva (ARTISTIC) considerando três estudos (GETUG-AFU 17, RAVES e RADICALS RT) investigou esta questão e demonstrou não haver diferenças em sobrevida livre de eventos entre as duas modalidades, o que pode fazer com que muitos médicos não ofereçam radioterapia adjuvante, independentemente dos achados patológicos na prostatectomia radical.

Contudo, pode-se dizer que a população com fatores patológicos adversos com alto risco de recorrência (pN1, Gleason 8-10, pT3a ou pT3b ou pT4) foi pouco representada nos estudos e metanálise citados acima (9 a 17% dos pacientes), fazendo com que ainda restem dúvidas se há, de fato, benefícios de radioterapia adjuvante neste subgrupo de pacientes. 

Dessa forma, foi realizado estudo de coorte com 26.118 homens, submetidos à prostatectomia radical e amostragem linfonodal pélvica, tratados entre 1989 e 2016 em centros alemães e americanos, com seguimento mínimo de 4 anos e mediano de 8/16 anos. Os pacientes apresentavam características de alto risco encontrados na patologia (pN1, Gleason 8-10, pT3a ou pT3b ou pT4).  O estudo demonstrou que, após exclusão de pacientes com PSA persistente, o tratamento adjuvante (nível de PSA < 0,1 ng/mL) foi associado a menor mortalidade por todas as causas quando comparado ao resgate precoce, incluindo ou não pacientes pN1. Isto é, ele fornece evidências que apoiam que a radioterapia adjuvante em comparação com o resgate precoce pode reduzir o risco de morte em homens com características patológicas de alto risco  na prostatectomia radical. 
Este estudo é uma importante evidência que o debate sobre a adjuvância versus resgate precoce na neoplasia de próstata ainda não acabou. É importante destacar, entretanto, que esta é uma comparação não randomizada e não prospectiva, sendo outros estudos ainda necessários para definição da melhor conduta neste subgrupo de pacientes.


1 https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-prostata
2


Conteúdo desenvolvido por Dra. Maria Thereza (@TherezaStarling / @mthzams), Dr. Fábio Y. Moraes (@fabiomoraesmd / @drfabio.moraes) e time Câncer em Foco com base em:

Adjuvant Versus Early Salvage Radiation Therapy for Men at High Risk for Recurrence Following Radical Prostatectomy for Prostate Cancer and the Risk of Death

Por: Derya Tilki, MD; Ming-Hui Chen, PhD ; Jing Wu, PhD ; Hartwig Huland, MD ; Markus Graefen, MD ; Thomas Wiegel, MD ; Dirk Bohmer, MD  ; Osama Mohamad, MD, PhD ; Janet E. Cowan, MA ; Felix Y. Feng, MD; Peter R. Carroll, MD, MPH ; Bruce J. Trock, MPH, PhD ; Alan W. Partin, MD, PhD; and Anthony V. D’Amico, MD, PhD

Este resumo foi baseado neste conteúdo https://ascopubs.org/doi/full/10.1200/JCO.20.03714.

Este link pode levar a sites ou publicações que exigem o pagamento ou associação como membro para acesso. Sugerimos e incentivamos o acesso ao conteúdo completo para aprofundamento nos temas apresentados.


Compartilhe nas redes sociais!