Estudo POP-RT: Radioterapia de próstata versus radioterapia em campo de próstata e pelve em pacientes de alto risco ou muito alto risco

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A irradiação profilática eletiva na neoplasia de próstata de alto risco é ainda tema controverso. Isso porque nenhum estudo randomizado até o momento mostrou ganho em sobrevida global com a modalidade. Entretanto, há discussões acerca de que o resultado negativo da irradiação pélvica profilática de diversos estudos prévios não seja necessariamente pela falta de benefício, mas talvez por falha na seleção dos pacientes ou inadequação dos volumes irradiados, pela tecnologia, dose e/ou terapia de privação androgênica empregadas previamente. 

Recentemente, foram publicados os resultados do POP-RT, estudo unicêntrico realizado no Tata Memorial. Esse estudo incluiu 224 pacientes com neoplasia de próstata de alto ou muito alto risco, com risco de envolvimento nodal maior que 20% pela fórmula de Roach. Eram elegíveis pacientes no estádio T1-T3a com Gleason 8-10; Gleason 7 com PSA >15 ng/mL; Gleason 6 com PSA > 30 ng/mL ou estádio T3b-T4a. 

A randomização foi realizada entre radioterapia de próstata apenas versus radioterapia em campo de próstata e pelve, sendo que todos os pacientes realizaram terapia de privação androgênica (análogos LHRH) por 2 anos ou orquiectomia. É interessante destacar que foi realizado esquema com escalonamento de dose e hipofracionamento moderado (25 x 2,72 Gy  em próstata e 25 x 2 Gy  em pelve). A mediana de risco de envolvimento nodal foi de 37,8%, com mais da metade dos pacientes apresentando risco maior que 35% de envolvimento nodal, refletindo a inclusão da população de mais alto risco neste estudo. 

Após seguimento mediano de 68 meses, a sobrevida livre de progressão bioquímica em 5 anos foi maior nos pacientes que realizaram radioterapia em pelve (95 x 81,2%, HR 0,23, p<0,0001), bem como maior sobrevida livre de doença (89,5 x 77,2%, HR 0,40, p=0,002) e sobrevida livre de metástases à distância (95 x 87,9%, p=0,01). Não houve diferença estatisticamente significativa em sobrevida global, toxicidade geniturinária e gastrointestinal agudas e gastrointestinal tardia ≥ grau 2. Entretanto, pacientes com irradiação pélvica apresentaram maior toxicidade cumulativa geniturinária tardia ≥ grau 2 (20 x 8,9%, p=0,02). 

Desta forma, os autores concluem que a radioterapia pélvica profilática com padrões modernos de dose e técnica, com terapia de privação androgênica de longo prazo em pacientes de risco alto e muito alto, deve ser considerada o padrão neste cenário. Apesar do estudo não ter mostrado ganho em sobrevida global, sabe-se que a sobrevida livre de metástase à distância pode ser considerada um robusto surrogate para este desfecho. 

Uma ressalva que merece destaque é que este estudo incluiu os padrões atuais de estadiamento (80% realizou PET-PSMA), dose, campo e tecnologia, sendo empregada radioterapia de intensidade modulada da dose com image guided radiation therapy (IGRT). Assim, é importante ressaltar que  na decisão sobre a irradiação pélvica profilática, além da consideração sobre os riscos e benefícios individuais de cada paciente, deve-se também considerar a disponibilidade tecnológica de cada centro de tratamento.


Conteúdo desenvolvido por Dra. Maria Thereza (@TherezaStarling/Twitter – @mthzams/Instagram), Dr. Fábio Y. Moraes (@fabiomoraesmd/Twitter – @drfabio.moraes/Instagram) e time Câncer em Foco com base em:

Prostate-Only Versus Whole-Pelvic Radiation Therapy in High-Risk and Very High-Risk Prostate Cancer (POP-RT): Outcomes From Phase III Randomized Controlled Trial

Vedang Murthy , MD; Priyamvada Maitre , MD; Sadhana Kannan, MSc; Gitanjali Panigrahi, MSc1; Rahul Krishnatry , MD; Ganesh Bakshi , MCh; Gagan Prakash , DNB, Mahendra Pal, DNB; Santosh Menon, MD; Reena Phurailatpam, MSc; Smruti Mokal , MSc; Dipika Chaurasiya, BSc; Palak Popat , DNB; Nilesh Sable, MD; Archi Agarwal, DNB; Venkatesh Rangarajan , DNB; Amit Joshi, DM; Vanita Noronha , DM; Kumar Prabhash , DM; and Umesh Mahantshetty, MD

https://ascopubs.org/doi/abs/10.1200/JCO.20.03282

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