A saliva desempenha um papel crucial na manutenção da integridade dentária, na diluição de detritos alimentares e bactérias, na limpeza mecânica da cavidade oral e no conforto oral. Ela também fornece atividade antimicrobiana, prevenindo infecções orais e desempenha outros papéis importantes, incluindo percepção do paladar, formação de bolo alimentar, facilitação da mastigação, deglutição e fala, bem como lubrificação da cavidade oral, orofaringe e esôfago superior.
Pessoas com câncer podem apresentar hipofunção salivar e xerostomia decorrente do tratamento, sendo frequente, e algumas vezes severa, em pacientes submetidos à radioterapia externa, como para o tratamento de câncer de cabeça e pescoço. Isso impacta na qualidade de vida e saúde bucal destes pacientes, uma vez que a hipofunção salivar é associada ao aumento do risco de infecções orais, como candidíase, destruição dentária por cáries, dispepsia, desconforto em mucosa oral e piora do estado nutricional.
Desta forma, foi realizado um painel multidisciplinar com especialistas, convocado pela American Society of Clinical Oncology (ASCO), Multinational Association of Supportive Care in Cancer/International Society of Oral Oncology (MASCC/ISOO) para avaliar as evidências disponíveis e elaborar, assim, um guia com ênfase na prevenção e redução da hipofunção salivar e xerostomia. Bases de dados como PubMed, EMBASE e Cochrane Library foram consultadas para estudos clínicos randomizados publicados entre janeiro de 2009 e junho de 2020. O guia também incorporou duas revisões sistemáticas anteriores conduzidas pela MASCC/ISOO, que incluiu estudos publicados de 1990 até 2008.
Dentre os pontos levantados no guia, destacam-se os seguintes:
Prevenção:
- O uso de radioterapia com intensidade modulada (IMRT) é recomendado para diminuir a dose em glândulas salivares maiores e menores. Três estudos randomizados compararam radioterapia conformada 3D com IMRT na neoplasia de cabeça e pescoço e mostraram diminuição em xerostomia, com diferença estatisticamente significante, sendo que um deles confirmou melhora da hipofunção da glândula salivar a longo prazo e menor incidência de xerostomia severa – qualidade da evidência: alta; grau de recomendação: forte.
- A acupuntura pode ser oferecida durante o tratamento de radioterapia para redução do risco de xerostomia – qualidade da evidência: intermediária; grau de recomendação: moderado.
- Administração sistêmica de betanecol (sialogogo) pode ser prescrita durante radioterapia para redução do risco de hipofunção salivar e xerostomia – qualidade da evidência: fraca; grau de recomendação: fraco.
- Vitamina E e outros antioxidantes não devem ser usados durante a radioterapia visando diminuição da hipofunção da glândula salivar ou xerostomia, uma vez que existe risco de potencial interação nos desfechos oncológicos, além de não haver evidência sólida sobre seu benefício – qualidade da evidência: fraca; grau de recomendação: fraco.
- Não existem evidências robustas sobre o uso de pilocarpina oral, amifostina, n-acetilcisteína, massagem em glândula parótida, laserterapia de baixa potência, radioterapia hipo ou hiperfracionada, melatonina, sulfato de zinco, estimulação nervosa elétrica transcutânea, própolis, massagem na glândula parótida ou fator de crescimento epidermal na prevenção de xerostomia.
Manejo:
- Agentes tópicos ou substitutos de saliva podem ser prescritos para aliviar os sintomas – qualidade da evidência: intermediária; grau de recomendação: forte.
- Estimuladores de via mastigatória (como pastilhas, balas e chicletes sem açúcar) podem ser usados para melhorar os sintomas, aumentando transitoriamente a secreção salivar – qualidade da evidência: intermediária; grau de recomendação: moderado.
- Pilocarpina oral e cevimelina podem ser prescritos com a finalidade de estimular a capacidade residual de função da glândula salivar. Entretanto, é importante destacar que a melhora na hipofunção é limitada – qualidade da evidência: alta; grau de recomendação: alto.
Este estudo é de extrema importância clínica e prática, uma vez que compila recomendações baseadas em evidências, formando um guia para melhores condutas na prevenção e manejo da xerostomia em pacientes oncológicos de cabeça e pescoço.
Conteúdo desenvolvido por Dra. Maria Thereza (@TherezaStarling / @mthzams), Dr. Fábio Y. Moraes (@fabiomoraesmd / @drfabio.moraes) e time Câncer em Foco com base em:
Conteúdo desenvolvido por Dra. Maria Thereza (@TherezaStarling/Twitter – @mthzams/Instagram), Dr. Fábio Y. Moraes (@fabiomoraesmd/Twitter – @drfabio.moraes/Instagram) e time Câncer em Foco com base em:
Salivary Gland Hypofunction and/or Xerostomia Induced by Nonsurgical Cancer Therapies: ISOO/MASCC/ASCO Guideline
Valeria Mercadante , BDS, PhD1; Siri Beier Jensen , DDS, PhD; Derek K. Smith, DDS, PhD, MPH; Kari Bohlke , ScD; Jessica Bauman, MD; Michael T. Brennan , DDS, MHS; Robert P. Coppes , PhD; Niels Jessen; Narinder K. Malhotra, MD; Barbara Murphy , MD; David I. Rosenthal, MD; Arjan Vissink, DDS, MD, PhD; Jonn Wu, MD; Deborah P. Saunders, DMD; and Douglas E. Peterson , DMD, PhD.
Este resumo foi baseado neste conteúdo https://ascopubs.org/doi/full/10.1200/JCO.21.01208
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