SAFRON II: SBRT em esquema de dose única versus esquema fracionado em pacientes oligometastáticos

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A radioterapia estereotáxica ablativa corpórea (SBRT) consiste no emprego de doses altas de radiação, entregues em 1 a 5 frações com técnica altamente conformada, que só foi passível de implementação e validação perante a evolução tecnológica da Radioterapia nas últimas décadas. Estudos randomizados prévios, fase II, demonstraram vantagem em sobrevida livre de doença e sobrevida global em pacientes oligometastáticos tratados com SBRT. A dose e esquema ideal, entretanto, ainda são temas de discussão e, até o momento, sem evidências de alto nível estatístico disponíveis. 

Desta forma, este estudo multicêntrico, fase II, teve como objetivo primário avaliar o perfil de segurança de esquema ablativo em dose única, comparando com esquema também ablativo, porém fracionado, no cenário de oligometástases pulmonares. Os objetivos secundários foram reportar desfechos relacionados ao paciente, eficácia clínica, custo-efetividade e imunogenicidade destes esquemas. 

Foram recrutados pacientes com uma a três oligometástases pulmonares de neoplasias malignas não hematológicas, de localização não central (2 cm além da bifurcação do brônquio lobar e via aérea central) e tamanho máximo de 5 cm. A randomização foi entre a realização de dose única de 28 Gy ou 4 frações de 12 Gy em dias alternados. 

Com seguimento mínimo de 2 anos (mediana de 36,5 meses), 87 pacientes incluídos e 133 metástases pulmonares tratadas, este estudo não mostrou diferença em toxicidade grau 3 ou mais em 1 ano entre os esquemas (5% para 28 Gy e 3% para 4 x 12 Gy, p=0,37). Interessante notar que radiodermite e esofagite foram mais comuns no braço fracionado, com diferença de 16% para os dois desfechos. Não houve diferença em sobrevida global ou sobrevida livre de doença entre os esquemas. 

O estudo também analisou os efeitos imunes do tratamento ablativo, que mudou a composição das células imunes circulantes, com aumento da expressão de checkpoints imunes (PD-1, TIGIT, CTLA-4) e no nível de citocinas plasmáticas, sem diferenças entre os esquemas de dose única ou múltipla, sendo consistente com os achados clínicos.  Estes achados reforçam a hipótese da ativação imune dos esquemas ablativos e criam uma janela para futura validação de biomarcadores prognósticos neste cenário. 

No entanto, algumas limitações são destacadas pelos autores. A doença pulmonar intersticial não era um critério de exclusão; diversos subtipos histológicos foram incluídos, o que limita os desfechos de sobrevida livre de doença e sobrevida global; e o tamanho da amostra foi relativamente pequeno, sendo necessária validação em estudos maiores e mais representativos. 

Assim, é importante destacar que os esquemas ablativos em dose única ou múltipla, testados neste estudo, apresentaram perfil de toxicidade aceitável e desfechos clínicos similares. É fundamental destacar a conveniência do tratamento, oferecendo a logística de realização em 1 dia, o que é interessante em um cenário no qual o distanciamento social é recomendado. No Brasil, isto ganha ainda mais relevância considerando-se a sobrecarga do sistema público de saúde, além da baixa capilaridade de serviços de Radioterapia fora de cidades de médio ou grande porte, o que muitas vezes leva ao deslocamento do paciente por grandes distâncias. Dito isto, este estudo é importante ao respaldar a realização de estudos fase III para validação deste promissor esquema.

Dr. Bernardo Salvajoli, radio-oncologista do Instituto do Câncer do Estado de SP (ICESP) e Hospital do Coração (HCor), fala sobre os possíveis desdobramentos desse estudo

Conteúdo desenvolvido por Dra. Maria Thereza (@TherezaStarling/Twitter – @mthzams/Instagram), Dr. Fábio Y. Moraes (@fabiomoraesmd/Twitter – @drfabio.moraes/Instagram) e time Câncer em Foco.

Este resumo foi baseado neste conteúdo https://jamanetwork.com/journals/jamaoncology/article-abstract/2783660

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